quinta-feira, 29 de maio de 2014

Guanajuato e os 40 dias de tremor

A quatro horas da capital mexicana, na minha primeira vez em direção ao norte, deparei-me com a cidade de Guanajuato, capital do estado de mesmo nome. Cercada por montanhas e repleta de casas coloniais me lembrou a Minas Gerais que nunca conheci. Em Guanajuato não há nenhum resquício da cultura pré-colombiana, por isso se parece tanto às cidades coloniais brasileiras. As montanhas estão cortadas por túneis de mineração, que hoje em dia são atração turística, mas que na colônia serviram para a exploração dos espanhóis. No topo de uma das montanhas está uma estátua cor salmão, de um homem baixo e gordo apontando o céu. Poucos tiram fotos ou se detêm para a observar a estátua. Trata-se de El Pípila, antigo minerador que teria atuado na insurgência para a expulsão dos espanhóis da cidade e na posterior independência do país, em 1821.O que chama mais atenção dos turistas é a linda vista da cidade, sua catedral, a bela Universidade de Guanajuato com suas escadas de pedra branca e as casas coloridas como miniaturas lá embaixo. Sabe-se que El Pípila provavelmente tenha falecido devido a doenças causadas pelo pó das minas. Não sei se sua história é contada pelos vários "guias turísticos" que se oferecem a contar a história da cidade por troca de alguma "propina". Soube dessa história assistindo a um programa turístico na televisão. El Pípila permanece esquecido no topo da montanha de Guanajuato, mas não se cansa de apontar o céu, sempre azul em todos os dias em que durou a viagem.

El Pípila, Guanajuato.

As ruas estreitas de pedra, as casas coloniais coloridas da descida à cidade lembravam o Pelourinho brasileiro. Lá embaixo, uma multidão tentava passear pelas ruas do centro, onde está a igreja com o ruidoso sino que entoava todos os dias a partir das seis da manhã para chamar os fiéis à missa. Nós, os turistas pecadores, nos remexíamos na cama tentando abafar as campanadas com o travesseiro. Porém, antes dessas campanadas, o sono nos abençoou sem sobressaltos, enquanto a capital mexicana, pela quarta vez este ano, tremia novamente. Soube do tremor ao acordar e checar as redes sociais. Agradeci a Guanajuato pela noite tranquila.

Guanajuato, vista do mirante El Pípila.


E falando em tremores, após os dois tremores que senti na capital, sentia estranhas tonturas e devido a qualquer movimento, fosse da cadeira onde me sentava, um pouco bamba, fosse do colchão macio da minha cama, meu coração acelerava e a cabeça andava às rodas. Soube, em artigos da Internet, que os tremores deixam uma sensação de tontura por até 40 dias após sua manifestação. Conto os dias para que a tontura passe, para que não tenha mais medo do chão, para que possa enfim aproveitar o meu colchão e ter uma noite tranquila, como aquela de Guanajuato. Aqui na capital, sem as campanadas da igreja para me despertar às seis da manhã, mas com o carro do comprador de ferros que entoa todas as manhãs a gravação de uma voz estridente de menina: "se compran tambores, refrigeradores, estufas lavadoras, microondas o algo de fierro viejo que vendaaaaaa".

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