Ruínas de Teotihuacan (à esquerda e ao fundo, a Pirámide del Sol e ao fundo e ao centro, a Calzada de los muertos). |
A ansiedade em conhecer a cidade e a memória do esforço que foi subir o cerro de Tepozteco fez com que a subida ao topo da pirâmide do Sol ocorresse com relativa facilidade. De lá de cima o sol impiedoso seguia nos queimando, as pedras da cidade não eram capazes de desenhar uma sombra ao redor das pirâmides, e a Calzada de los muertos reluzia dourada. Diante daquele sol chapado, vigorante, é fácil compreender porque foi visto como um poderoso deus e teve a maior e mais trabalhosa pirâmide de Teotihuacan oferecida a ele. Aqueles povos adoravam exatamente aquilo que estava ao seu redor, identificavam sua atuação direta nas suas vidas, a toponímia de suas cidades e templos reflete a correspondência direta entre os elementos da natureza, divinizados, e a realidade terrena. Teotihuacan é justamente o lugar onde até mesmo os homens se convertem em deuses, segundo sua tradução do náhuatl.
E um dos motivos para essa divinização talvez se dê também por todo o mistério que encobre a história da cidade. Quem eram os homens que povoaram a cidade antes dos aztecas? Como foi realizada a construção daquelas pirâmides imensas, feitas de pedras que pesam toneladas? Grande parte de Teotihuacan está proibida para a visita dos turistas sedentos por fotos, muitos de seus segredos estão de certa forma compartilhados pelos arqueólogos que têm o maravilhoso trabalho de tentar desvendá-la. Mas que ainda assim, certamente, não têm todas as respostas. Em meio a um entorno tão pouco transcendente em que a civilização atual, ao contrário, esvazia o sentido dos signos da natureza e os reinventa sob o molde único da mercadoria, aquela anterior capacidade do homem de divinizar-se mediante o mistério de suas próprias ações me pareceu fascinante.
Nopal e a Pirámide del Sol |
E contava sobre minha viagem para minha família através do Skype e ouvia a tempestade que se aproximada de Santos, litoral de São Paulo. Um raio chegou a me assustar, a sete mil quilômetros de distância de onde deve ter caído. Mas o som que fez minha mãe afastar a cadeira de frente do monitor bruscamente foi tão penetrante através dos bits da internet quanto lá na cidade em que vivem meus pais. Achamos melhor parar a conversa para que pudessem desligar os equipamentos eletrônicos da casa. Alguns minutos depois, porém, o céu do DF se escureceu e os trovões tomaram conta do domingo da capital mexicana. A chuva foi o deus deste domingo, encharcando nosso continente latino-americano de norte a sul, languidescendo meus pensamentos, me acompanhando por um passeio pelas ruas coloniais e agora úmidas de Coyoacán.
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